terça-feira, novembro 06, 2007

|

Amantes de Poesia

I
Ela esperou-o, sentada na estação de metro do Marquês.Ele nunca mais chegava, provavelmente nunca chegaria, mas de repente chegou e sentou-se a seu lado.Durante minutos não trocaram uma única palavra, os comboios passavam.Vamos neste?Vamos...
Ele conduziu-a, ela era meio distraída e ele minuncioso.Tomaram chá, fumaram cigarros e culpando os nervos, diziam disparates e riam, riam muito.Não vás já...fica mais um pouco.Foram ver o pôr-do-sol disfarçado de janelas em chamas, chegou o frio e abraçaram-se.Tenho de ir...já viste algo mais bonito do que dois amantes de poesia que se apaixonam?...Beijaram-se e assim começou o fim do mundo...

II
Era a primeira vez que faziam amor, estava escuro e havia vinho e música.Deixas-me nervoso...ela sorriu e chamou-o de tolo.Como haveria ela de o deixar nervoso, ela que nunca havia provado lábios mais quentes....ele despiu-a e ela sentiu-se mais nua do que devia.Queria chorar, mas não conseguia.Admiro muito o teu corpo.Ela não respondeu e despiu-o.Observou-o e com as mão sentiu-lhe cada detalhe, sabia bem onde tocar para o fazer estremecer.Era belíssimo aos olhos dela...Entrou nela. Há muito que ninguém o fazia, não daquela maneira...tão bom...Quando terminaram, abraçaram-se muito, sorriram muito, beijaram-se muito.Voltaram ao vinho e aos cigarros e ela pensou que se morresse, morreria feliz.
Fizeram amor mais vezes, até que ele adormeceu, ela contemplou-o durante horas, enquanto bebia e fumava.Até que o álcool e o cansaço tomaram conta do seu corpo e adormeceu também.Acordou de manhã enquanto ele lhe segredava ao ouvido:"Lembra-te de mim..."

III
O ódio e o amor eram de tal ordem que unhas e dentes se cravavam na pele...Esqueciam-se de respirar e por isso, sentiam-se meio zonzos...
Porquê?Porque tem de ser...
As roupas haviam há muito sido arrancadas, só havia carne e lágrimas e suor e saliva e desejo.Adeus... adeus... era tudo uma despedida, a necessidade de deixar marcas, cicatrizes, feridas que não saram mais, era senhora naquele quarto nauseabundo, asfixiante, repletos de posters de cinema e de música...
Porquê?Porque tem de ser...
Mordiam-se ambos, arranhavam-se, lambiam-se, arfavam que nem cães e ela...ela chorava e pedia-lhe que fosse só dela...e ele dizia não.
Porquê?Porque tem de ser...
Foderam-se, não há palavra mais acertada do que esta, ela puxou-o para dentro e ele entrou mais fundo.Vieram-se...Ele saiu de cima dela, tomou-a em seus braços, abraçou-a muito e chorou-a muito.Amei-te tanto...disse ela.Não devias, respondeu ele.
Porquê?Porque tem de ser....

Já viste algo mais bonito do que dois amantes de poesia que se apaixonam?....
|