Porquê?...
Porque é que me olhas assim, se nem sequer me vês? Porque é que me falas dessa forma que não quero ouvir, obrigando-me a deixar de ouvir com os ouvidos e a concentrar-me apenas no que os teus olhos me dizem.É verdade que eles me falam num dialecto que ainda não entendo. Porque não mo traduzes? Ah, se soubesses como anseio tocar-te de uma forma que eu sei que nunca ninguém te tocou..Visualizo essa imagem uma e outra vez, enquanto insistes em dizer piadas idiotas. E eu sorrio...Nao por lhes achar graça, mas porque me sinto tão idiota quanto elas, e por saber que nem sequer tens vontade de as dizer. Mas que fazer? As máscaras que colocámos foram escolha nossa e protegem-nos neste mundo, o qual não fazemos parte. Mas até a isso...sorrimos. Como a Mona Lisa. Mas na realidade, sofro. Sofro porque nem sequer sei como te sinto.Confesso, dias se passam e nem sequer do teu nome eu me lembro. Em dias de chuva, quando me sinto só...sinto-te em mim.Como um peso no peito, uma rede no cérebro, uma dor incomodativa, que me faz chorar´lágrimas delicadas numa face já ensaguentada de outras e outros. Por vezes, nem te ouço falar. Concentro-me nos teus olhos côr de amêndoa, na forma como se mexem, tão pequeninos, na tua ânsia de engolir o mundo pelos olhos. Que inveja de não ser todas as coisas que miras, todas as coisas em que tocas...ser todas as coisas e não ser nenhuma, que o todo é igual ao nada, e não nos basta. Penso tudo isto, enquanto falas. Enquanto julgas que eu estou a ouvir as tuas histórias. Enquanto a tua mão passeia com o cigarro pelo ar. Adoro essa tua mão de poeta...Anseio pelo toque dessa mão suja. Que acontecerá se ela um dia se entrelaçar na minha?...Porque não?...